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Ele projetou pouco e, em raros momentos, teve, formalmente, um escritório de arquitetura. Funcionário público durante quase toda a vida, escreveu muito. Era tímido e reservado. “Parecia querer se ocultar de tudo e de todos”, observou Carlos Drummond de Andrade, seu colega de repartição. Mas, nesse aspecto, Lucio Costa fracassou. Fracassou, pois é figura-chave da arquitetura moderna no Brasil: foi mentor de uma reforma do ensino, articulador de um dos principais edifícios do movimento moderno – o Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro –, autor de textos fundamentais e das normas de preservação do patrimônio histórico. E mais: foi o condutor do amadurecimento da produção brasileira. Transbordando os limites da profissão, foi um pensador do Brasil. E fez isso com a discrição de um erudito que, no percurso da história, ora acelera, ora freia, em movimento pendular entre o passado e o futuro. Este mesmo pêndulo oscilava entre a reflexão e a produção. Ao costurar os extremos, como pontuou Manuel Bandeira, “Lucio Costa nasceu poeta”. E como tal, teceu obras-primas. Escolheu materiais, cores e texturas, com a sensibilidade de um poeta que procura a essência das palavras. Nessa toada, traçou um hotel campestre de madeira com o apuro de um pavilhão contemporâneo e protegeu os apartamentos do Parque Guinle com rendilhado de tradicionais cobogós cerâmicos e brises modernos. Ao visitá-los, Walter Gropius, criador da Bauhaus, teve a certeza de que Lucio Costa figurava entre os principais arquitetos de seu tempo. E isso ocorreu antes dele criar Brasília, o emblemático plano urbanístico do século 20. Se tudo isso não bastasse, tratou também do mobiliário. É autor de um texto fundamental sobre o tema e, na maior discrição, elaborou móveis com o mesmo raciocínio de sua arquitetura: bebeu na vanguarda europeia sem esquecer as raízes brasileiras. Não foi à toa que Caetano Veloso disse sentir “em Lucio essa marca do modernizador que não agride o ritmo natural, não agride o fluxo natural da vida. Então, é um modernizador com sabedoria, e – para mim – é uma lição”. Para ambientar seus projetos, criou cadeiras, luminárias, camas e mesas. Um de seus móveis – a poltroninha Lucio – foi exposto pela primeira vez quando, em 1962, Sergio Rodrigues o desafiou a participar da exposição “O móvel como objeto de arte”. Como um clássico do design, a peça reinterpreta o passado. Mas, como em tudo o que fazia, Lucio Costa incorporou uma camada própria à tradição. Uma camada de conforto, um requebre de sabedoria, um toque de poesia, um quê de brasilidade. Agora, a dpot passa a produzi-la, dando início a uma série com outras peças resgatadas do precioso baú de Lucio. (30/11/2023_ texto de abertura da exposição LUCIO COSTA, DESIGNER por Fernando Serapião e Baba Vacaro).