NOVEMBRO 2023

DPOT APRESENTA: POLTRONINHA, POR LUCIO COSTA

 

 


 

“É mais difícil desenhar uma cadeira do que uma cidade.” Se fosse dita por um designer, a frase pareceria um autoelogio. Mas ela saiu da boca de Lucio Costa três anos depois da inauguração da cidade que criou – Brasília. Conhecido como especialista em patrimônio e autor de prédios notáveis, Lucio Costa foi o maestro da arquitetura moderna brasileira.

Os escritos de Lucio Costa deixam evidente seu interesse genuíno em esclarecer os princípios norteadores de uma conciliação entre passado e presente. Num deles, de 1939, analisa a evolução do mobiliário luso-brasileiro e aponta que peças concebidas com espírito verdadeiramente moderno deveriam basear-se, por um lado, na sobriedade característica dos móveis tradicionais e, por outro, nas características próprias da produção industrial e nas transformações produzidas pela técnica contemporânea. A isto somariam-se princípios como independência estrutural, leveza – de aspecto e de peso -, e armações reduzidas ao necessário, assegurando uma estabilidade perfeita ao corpo e às várias maneiras de sentar - no caso específico dos assentos.

A poltroninha criada por ele é a tradução deste pensamento. Transitando entre o moderno e o vernacular, utiliza como ponto de partida os atributos da cadeira colonial de campanha do século XIX, de autoria desconhecida, explorados posteriormente por outros designers e arquitetos, entre eles Le Corbusier, cujas ideias Lucio Costa reinterpreta de modo particular na arquitetura moderna brasileira.

No projeto do Parque Guinle, por exemplo, Lucio acrescenta uma nova camada à matriz Corbusiana, criando uma sensação de conforto e acolhimento através da escolha das cores, proporções e materiais dos brises e cobogós. A poltrona provoca uma sensação semelhante.

Com rigor, coerência e atenção ao detalhe, Lucio Costa cria sua versão de estrutura independente reduzida ao necessário e elege como material a madeira, base do mobiliário luso-brasileiro. Desenha pés de seção quadrada, que tocam no chão em ligeiro afunilamento, garantindo a leveza visual. À rigidez industrial da poltrona Basculante de Corbusier, acrescenta uma camada de conforto, utilizando blocos independentes, macios e estofados: dois estreitos e levemente curvos para acomodar a angulação dos braços, um fixo para o assento e um pivotante para o encosto, assegurando a perfeita adaptação a um sentar “meio-repouso”, para conversa, espera ou leitura.

Exposta e fabricada no início dos anos 1960 pela Oca de Sergio Rodrigues, a Poltroninha Lucio Costa é  agora reeditada sob licença e passa a fazer parte da coleção dpot de móveis de autor.