MAIO 2024

DPOT APRESENTA: GIANCARLO PALANTI, DESIGNER

 

 


 

Editor de uma compilação europeia sobre o móvel moderno (“Mobili Tipici Moderni”, Domus, 1933), Giancarlo Palanti prevê, no texto de abertura do livro, que a casa ideal – o tipo de moradia para a qual se inclinariam os melhores criadores modernos – aboliria os grandes móveis tradicionais, priorizando o uso de móveis leves e soltos (mesas, cadeiras, poltronas e camas). Enfatiza que o movimento pelo móvel moderno estaria enquadrado em uma grande batalha pela renovação da arquitetura, bem como de todas as manifestações da vida social, em adequação às novas exigências materiais e espirituais do homem daquele tempo.

Palanti argumenta ainda que, nos móveis, a simplificação das linhas, o uso de superfícies lisas, a abolição dos entalhes e afetação das saliências, reentrâncias e incrustações em bronze, não seria ditada exclusivamente pela mudança do conceito de beleza – necessidade puramente estética e espiritual –, mas sim de bem determinadas necessidades práticas e higiênicas, motivos principais que tirariam da moderna concepção o caráter de moda, para conferir-lhe a razão primordial da necessária mudança: encontrar uma expressão lógica e sincera das funções do móvel.

Ao examinar e confrontar os móveis selecionados para o livro, Palanti evidencia como a questão é enfrentada e resolvida pelos vários arquitetos, nos vários países. E conclui que, na mobília, a questão da nacionalidade é menos sensível e individual que na arquitetura, visto que a função de um armário ou de uma cadeira é idêntica, independentemente do país de sua criação. As diferenças se dão sobretudo pela sensibilidade individual dos vários criadores. Portanto, decide organizar o livro por tipologias e não de acordo com a origem dos desenhos.

É justamente nesta sensibilidade individual que reside a identidade do conjunto de uma obra. Projetista em diversas escalas – do design de móveis, objetos e interiores ao desenho urbano, o arquiteto Giancarlo Palanti foi coerente em toda a sua trajetória. Criado na tradição racionalista, manteve-se fiel à ideia de simplicidade e precisão da forma que segue uma função e um meio de fabricação, sem prejuízo da experimentação com novos materiais e sempre de acordo com os recursos locais. É frequente em sua obra a escolha de elementos a serem redesenhados ou revisitados a cada projeto, em constante busca pela evolução e aperfeiçoamento da solução desenhada – da estrutura ao detalhe. Tais escolhas apresentam-se em vários desenhos ao longo do tempo, como a ousada solução de vitrines flutuantes da loja Rubinstein em Milão, projetada nos anos 1930, que será recuperada posteriormente em projetos de lojas em São Paulo, onde o arquiteto também retoma o engenhoso sistema modular de expositores/estantes – documentado primeiramente em croquis de projeto para uma loja na Itália (1943-44) e retomado logo após sua chegada ao Brasil, tanto para uso como expositor para máquinas de escrever quanto como estante de livros de uso residencial.

Tal sensibilidade individual, que no desenho de Palanti se faz principalmente de razão e disciplina, resulta visualmente em um equilíbrio sóbrio e delicado: entre vários possíveis exemplos, uma curva elegante substitui, enquanto oculta um puxador; a angulação de uma estrutura garante o flutuar de um tampo; um afilar de pés de cadeiras, poltronas ou estantes garante a leveza ao tocar o chão. É nessas sutilezas e detalhes de desenho que habitam intenção e identidade.

Algumas de suas criações, a partir de agora reeditadas sob licença e com exclusividade, passam a fazer parte da coleção dpot de móveis de autor.