DEZEMBRO 2024

DPOT APRESENTA: EXPOSIÇÃO JOHN GRAZ, DESIGNER

 

 


 

Pode um autor ter exposto na Semana de Arte Moderna e ser também pioneiro da arquitetura de interiores no país? É possível se estivermos tratando de John Graz (1891-1980), um artista multifacetado, que se expressou ainda através de murais, cartazes, vitrais, objetos e móveis.

 

 

Tamanha diversidade reflete o contexto cultural europeu das primeiras décadas do século 20 que, em paralelo à efervescência das vanguardas, ecoou as artes aplicadas – tendência que aproxima a arte das necessidades do dia a dia. As artes aplicadas impregnaram tanto a educação de Graz, que estudou na Escola de Belas Artes de Genebra, sua cidade natal, quanto sua pesquisa paralela. Neste sentido, além de aprender a base das belas artes – ou seja, pintura, escultura e arquitetura –, teve aulas de conteúdos mundanos, como, por exemplo, a decoração. O entrelaçamento da tradição com a novidade continuou fora da escola, quando se aprofundou em pintura na Espanha e aprendeu publicidade e design na Alemanha. Sua carreira transitou, desde o princípio, nesta dicotomia, ao pintar telas experimentais ao mesmo tempo que atendia encomendas de vitrais religiosos e cartazes de perfume.  

Tendo como bússola a paixão pela artista brasileira Regina Gomide, que conhecera em Genebra, Graz desembarcou no Brasil aos 28 anos. O colorido das telas brasileiras espelhou a esperança no novo mundo, onde estava tudo por fazer, em oposição aos tons sombrios do velho mundo destruído pela guerra.

Foi acolhido pelo imberbe movimento moderno brasileiro: Oswald de Andrade, após adquirir uma tela, o convidou a participar da célebre semana enquanto Mario de Andrade, ao tratar da diversidade de temas expressos em seus quadros – que incluíam motivos religiosos, paisagens e naturezas mortas –, escreveu que “a variedade não diminui, antes alarga a personalidade dum artista”. A tal variedade alargadora talvez possa ser uma chave para compreender a trajetória de Graz, cujo entendimento complica-se justamente pela amplitude.

 

 

Nesta abundância, além da pintura, cada vez mais estudada, o foco essencial de Graz foi o design, entendido aqui com fragmentos de sua arquitetura de interiores, que, infelizmente, sobreviveu somente em fotografias e desenhos. Enquanto seus primeiros móveis são o retrato de uma época, ao serem precursores do art déco brasileiro, seu mobiliário moderno mantém o frescor. Ao contrário do período anterior, ele não documentou seus ambientes em fotografias. Contudo, Graz registrou suas criações através de perspectivas com cores vibrantes, semelhantes às de suas pinturas. A fantasia cromática, o frescor do design moderno e de suas composições chegam até nós como vigor e êxtase.

 

 

Desmembrados destas composições, os móveis modernos de Graz – reeditados há duas décadas pela dpot –, ganham sobrevida na produção em série. Retirado dos ambientes como se fosse uma pietà isolada de uma pintura, o design de John Graz se incorpora ao cotidiano dos usuários, honrando, assim, o verdadeiro espírito das artes aplicadas.

 

(03/12/2024_ texto de abertura da exposição JOHN GRAZ, DESIGNER  por Fernando Serapião e Baba Vacaro).

 

Direção de conteúdo

Baba Vacaro

 

Curadoria

Baba Vacaro e Fernando Serapião

 

Expografia

Michelle Jean de Castro e Éder Ribeiro

 

Lighting design

Estúdio Carlos Fortes

 

Design gráfico

Júlio Mariutti, Estúdio Lógos

 

Imagens 

Acervo do Instituto John Graz/IEB-USP

 

Agradecimentos

Instituto John Graz, Lili e Ernesto Tzirulnik, Fernando Prado, Phenicia Concept

 

Realização

Dpot