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Um homem entre dois mundos. É assim que podemos definir Giancarlo Palanti, arquiteto cuja trajetória se dividiu entre a Itália e o Brasil. Fruto de uma família de artistas, ele nasceu em Milão no início do século 20. Recém-formado, ingressou nas trincheiras modernas na briga com acadêmicos. A batalha coletiva o habituou a produzir em grupo, característica mantida por toda a vida. Assim, alistou-se no primeiro destacamento de vanguardistas italianos, tendo colegas de farda como Franco Albini e Ignazio Gardella.
Após quase duas décadas atuando em Milão, criando espaços e editando revistas, Palanti mudou de continente em consequência da guerra real. Aportou em Santos no dia que completou 40 anos. Subiu a serra, encontrou a paz e ajudou a definir a morfologia da São Paulo moderna. Seus primeiros parceiros foram outros italianos imigrantes, como Lina Bo Bardi. Em seguida associou-se a brasileiros, a exemplo de Henrique Mindlin. Contudo, independentemente das cooperações, seu traço é perceptível quando se lê o conjunto da obra.
Obra esta que integra os anais da história da disciplina de ambos os países. Tratando do urbanismo, criou tanto um célebre plano para transformar a região da Feira de Milão num bairro verde, quanto uma proposta classificada entre as finalistas do concurso de Brasília. No campo arquitetônico, elaborou edifícios emblemáticos, desde o mais significativo conjunto de habitação social moderno de Milão até a torre do Anhangabaú que ajudou a moldar o centro paulistano.
A única obra italiana realizada no período brasileiro é simbólica: o Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza. O projeto tem uma versão inicial pouco conhecida. Nela, ao invés de utilizar o terreno disponível – que fica, do outro lado do canal, no eixo de uma das alamedas principais –, Palanti propôs um pavilhão-ponte. Quiçá, ligando as margens, ele enxergava-se como um elo entre os dois mundos.
Algo que ele também enxergava era a ausência de fronteira entre escalas, do urbanismo ao design. Sendo um legítimo moderno, entendia este universo como um só. Do primeiro ao último passo, provando esta tese, com a mesma seriedade que concebia um plano urbano, foi um exímio criador de interiores. Também são notáveis seus móveis, elaborados de acordo com o contexto. Em Milão, por exemplo, preferia componentes industrializados, como metal e borracha, enquanto optava pela madeira no Brasil.
Independente do material, seu desenho potente desperta, cada dia mais, a atenção de colecionadores de móveis. O que poucos percebem é que, como designer, Palanti é um personagem ímpar: é o único pioneiro tanto do desenho moderno da Itália quanto do Brasil. Em síntese, um autor a ser redescoberto. E, no centro desta batalha está seu mobiliário que, após sete décadas sem produção, passa a ser reeditado pela dpot.

(21/05/2024_ texto de abertura da exposição GIANCARLO PALANTI, DESIGNER por Fernando Serapião e Baba Vacaro).
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3Giancarlo Palanti

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